Dislexia? Nada de dramas!

09/10/2011 19:52

É verdade que a dislexia é muito frequente em Portugal. Em estudos efectuados verifica-se uma maior incidência deste fenómeno nos falantes de línguas latinas, do que nos de anglo-saxónicas. 

Porquê? 
Porque a dislexia será uma dificuldade relacionada com a vista e o ouvido que não trabalham em consonância como deveriam e as línguas do sul da Europa têm mais complexidade de sons, isto é possuem mais palavras com sons iguais mas com grafia diferente. Há muitas crianças com esta dificuldade genética o que as leva a dar erros ortográficos, trocarem sílabas ao escrever e falar, o que é muito comum no norte, de onde sou originária, e até engraçado quando ouvimos os adultos altamente disléxicos a comunicarem entre si, mais parecendo estarem a usar um dialecto. 


É claro que os indivíduos com este problema têm dificuldades na escola e muitas vezes se desmotivam e abandonam a escolaridade. Antigamente (50 anos atrás) tinham duas hipóteses: levavam tantas reguadas (como foi o meu caso) que eram obrigados a ultrapassarem por si próprios o problema ou desistiam de estudar e ficavam a trabalhar no campo ou na fábrica.


Hoje em dia o que se deve saber sobre a dislexia é que é frequente, que não é impeditiva de prossecução de estudos, havendo alunos altamente disléxicos que terminam o seu curso de medicina ou outro qualquer, como o de Línguas (como é o meu caso) sem terem de recorrer a ninguém em especial, uma vez que há técnicas para se vencer a dislexia quer dentro do próprio indivíduo quer com a ajuda dos seus familiares ou professores. Estes naturalmente devem estar cientes da existência e das soluções para esta e muitas outras dificuldades que os alunos possuem, de diferente tipo e com características específicas. O que não quer dizer que possam e devam resolver todos esses problemas. Se nem os médicos essas curam todos os males….


Perante a persistência de uma dificuldade linguística manifestada pela criança, qualquer adulto deve interrogar-se sobre a sua proveniência, analisando as características, os momentos em que surgem e procurar formas de contornar essas dificuldades. Só quando não obtêm resultados positivos é que devem procurar um especialista para que a situação seja ultrapassada.


Uma outra característica dos disléxicos é que parece que têm um vocabulário pobre. Têm muita dificuldade em memorizar vocábulos menos frequentes. Isto não significa que não possuam um vocabulário rico, antes pelo contrário, podem ler e compreender desde a história infantil ao livro mais técnico, todavia não utilizam os vocábulos, remetendo-se a um determinado número de palavras e construções gramaticais simples, que usam sistematicamente. 


A 1º vez que me apercebi desta (minha) situação estava na faculdade. A 1ª vez que ouvi falar desta limitação vocabular dos disléxicos (ainda não baptizada com este nome) foi numa Conferência para professores de Inglês nos fins dos anos 1970s, que se realizou na (minha) Faculdade de Letras de Lisboa..

Reconheci a dislexia em alguns dos meus alunos, mas como leccionei no secundário, , eram poucos os que conseguiam lá chegar porque toda a “filtragem” já tinha sido efectuada no básico.

Fui-os descobrindo quando, a partir de meados dos anos 80, começaram a aparecer nas consultas de desenvolvimento, aconselhamento e orientação na associação de apoio a sobredotados que eu fundara, o CPCIL. Fui encontrando, empiricamente, formas de os ajudar a ultrapassar as dificuldades, dado que, quase sempre muitos revelavam QIs elevados. Daqui não se infira que os disléxicos são sobredotados, mas precisamente o contrário. Há muitos sobredotados que são disléxicos. Logo a dislexia não é impeditiva do que quer que seja que o indivíduo decida fazer com a sua vida, mas é fundamental que se reconheça o mais cedo possível, que se ajude a criança rápida e eficazmente, em vez de deixar arrastar uma situação que pode originar desmotivação, desinteresse pela escola e insucesso escolar. 

Alegremo-nos, contudo, a dislexia é uma dificuldade com solução. 


Conteúdo gentilmente cedido por :

Dra. Manuela Freitas
Fundadora e Presidente do CPCIL ( Centro Português para a Criatividade, Inovação e Liderança )
Março de 2008

Fonte:www.guiadafamilia.com/guiadasaude/tema.php?id=5135