Linguagem e Fala - Falaremos da mesma coisa?

09/10/2011 18:27

As expressões linguagem e fala são com frequência usadas indiferenciadamente. Na verdade, a diferença entre linguagem e fala é substancial. 

A fala não pressupõe mais do que uma estrutura anatomofisiológica competente, enquanto que a linguagem pressupõe um mecanismo cognitivo (“cognitivo” não pressupõe “intelectual” mas antes um processo cerebral)  complexo que transforma os sons de fala em sons com signficado linguístico de uma  língua. 

À medida que a criança cresce, este mecanismo vai-se organizando em diferentes “módulos”. Cada um deste módulos é responsável pela aquisição, desenvolvimento e amadurecimento de competências linguísticas diferentes. Por exemplo, a evolução que a criança exibe nos diferentes formatos de frase que vai produzindo, começando por estruturas mais simples como por exemplo “carro menino” para chegar, mais tarde, a um formato como “dá o carro ao menino”, mostra que a criança evoluíu quanto ao seu desempenho sintáctico, ou seja, quanto à capacidade que ela tem para construir frases mais complexas. 

Dada a diferença entre fala e linguagem, é possível e comum que uma criança apresente um bom desempenho na fala (competência anatomofisiológica), mas um mau desempenho na linguagem (competência cognitivo-linguística), ou vice-versa. Desta forma, a criança poderá “articular bem” os sons da fala (diz o som “b”), mas ter dificuldades no pleaneamento e/ou na organização desses sons (nível fonológico) quando tenta dizer uma palavra como “banana” (diz “manana” em vez de “banana”, mas diz “bola”). Da mesma forma, outras crianças poderão não apresentar dificuldades na fala, mas também apresentar limitações na linguagem, nomeadamente na construção de frases (nível sintáctico).

Em suma, os conceitos fala, linguagem oral e linguagem escrita remetem para competências adquiridas, desenvolvidas e estabelecidas durante a infância e são determinantes para o sucesso das aprendizagens escolares. Desta forma, à semelhança do cuidado que os pais têm em sujeitar as crianças a rastreios anatomofisiológicos (como os visuais, auditivos...), seria importante que a linguagem da criança também fosse rastreada periodicamente, com vista à minimização atempada de alterações observadas e/ou à prevenção de outras, nomeadmente das decorrentes de um mau desenvolvimentos da linguagem, como as dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, entre elas, a dislexia, frequentemente desencadeada por alterações do processamento do sistema sonoro da língua-alvo (processamento fonológico).



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Fonte: estrelaseouricos.familia.sapo.pt/