Autismo: reverter o quadro através de reprogramação de neurônios

11/05/2011 17:46

  

Observar o desenvolvimento de neurônios de pacientes com quadro autista e revertê-los a estados normais, isso é o que descreve a pesquisa publicada nesse mês na Revista Cell, e que tem como pesquisador o brasileiro Alysson Muotri.

Segundo Alysson (biólogo molecular formado na Unicamp e doutorado em genética na USP), a idéia de tentar "modelar" os neurônios de pacientes com autismo surgiu em 2006, ao assistir uma palestra do pesquisador japonês Shynia Yamanaka, que relatou seus estudos preliminares de reprogramação celular.

"Louco ou não, naquela hora eu achei que se aquilo realmente funcionasse, eu seria um dos primeiros a aplicar a nova tecnologia para o entendimento de uma doença do desenvolvimento. Não via a tecnologia apenas como alternativa para o uso de células-tronco embrionárias humanas, enxerguei a oportunidade de usar a tecnologia para a modelagem de doenças humanas” disse o pesquisador.

Já em 2008, quando Alysson começou a liderar um laboratório de pesquisa na Universidade da Califórnia em San Diego, viu a oportunidade de colocar seus planos em prática. As pesquisas começaram com a Síndrome de Rett, devido já saber qual o gene responsável pela síndrome na maioria dos casos, diferente do autismo, que permanece uma incógnita.

Ao lado dos pesquisadores Cassiano Carromeu e Carol Marchetto, partiu para buscas de financiamentos e depois de diversas conversas partiram para o projeto. Os experimentos da equipe demonstram a capacidade de "corrigir" os neurônios um por um nos pacientes com síndrome de Rett e diminuir os sintomas, através de drogas como o IGF1 e a gentamicina.

O IGF1 é uma droga que estimula as células neuronais e auxilia no desenvolvimento neuronal, a gentamicina provoca mutações genéticas específicas, as duas drogas tiveram que ser trabalhadas para melhor absorção no organismo e na questão da alta toxicidade.

Os primeiros testes clínicos em pacientes Rett, em Boston no EUA tiveram resultados positivos, e que aumentam as esperanças dos pais de crianças com Rett e autismo na possível "cura".

Diz Alysson "Tenho orgulho de ter participado com meus colegas dessa pesquisa que rompe barreiras e desafia os fundamentos da neurociência e da própria psiquiatria. Nasci ouvindo que o espectro autista não tem cura. Acho que isso é um mito. Amanhã no laboratório vamos ousar algo novo. A ciência é assim, todo dia uma nova aventura, trazendo esperanças e nos fazendo sonhar com oportunidades que antes pareciam impossíveis.”

Fonte: G1